sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Arame

De repente sou eu que não entendo
Sou eu que sinto vibrar a água mesmo quando é de corredeira criada pra demonstrar que é
E não só dá que sempre foi
Então, de repente sou eu que vibro errado
Que sorrir de arame é viver enquadrado
Mas é disso que se trata pertencer por aqui
Vai ter sempre uma grade pra escalar
E ali ao longe, um incêndio
Que nunca se apaga.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Encoberto

A suspensão do céu antes da chuva
Parece retidão mas é equilíbrio
Porque enquanto do céu, escuro
O sol vem, humilde, sem que o veja
Generoso, deixando que o perceba através do que toca a sua frente
Que se não fosse o cinza seria, a luz, cegueira
Como as mil palavras cuspidas
Que nunca generosas com as frestas de onde vêm
Atravessam sem olhar
E deixam enviesada luz que saiu por elas
Não fazem jus aos brilhos condensados que a fazem feixe
Mas pelo menos deixam a fresta
Pra que sempre se possa iluminar
Deixar ser, de fato
Quando o alto, encoberto, pairar as imagens
Né?

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Esti(g)mada ignorância

Eu tô com medo do mundo
E tranquei todas as portas pra me roubarem só a tevê
Que no intento de me ver
Em vácuo descanso
Eu balanço dentro
No I(r)ma do peito
E Ele rouba o direito
Suga direto
pro seu egocentro..
Que enquanto girava eu vi
Um estouro azul
Que de tentar alimentar a fome de conforto, ouvi
As mãos do medo arrombando a porta
E nada fez mudar a aparência da casa..
Mas alguém olhou a caixa d'água no sótão?

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Perspectiva

Das vezes que a gente não se reconhece na própria foto
De uns meses atrás
De ontem
A estranheza de ser uma imagem
Que diz algo por si só
Quando a gente está se sentindo um momento
Ou a eternidade
Colcha costurada de vários deles.
...
Hoje eu vi duma outra, nova (a meus olhos, que só não a viam), janela
A borboleta voar e pela primeira vez
Em muito tempo
Pousar tranquila em meu dedo
Em vez de bater asas até que acabasse sua vida
E eu a visse descer como pluma
À minha mão
Eu a toquei em vida, enquanto ela decidia seu silêncio e não ele decidia por ela.
E eu pude sentir o vento que a levava a tanto frisson
Que eu não sentia enquanto ela dançava desespero de engolir seus minutos de existir.
Pudemos sentir a grandeza do que somos
E o que éramos uma para a outra
Enquanto sentíamos o movimento da noite recebendo nosso encontro.. de tanto tempo só de compasso corrido
Foi esse o abraço..
Que comprovou a impermanência
Como cíclica
No carinho do beijo que a luz e o escuro
se dão todo dia.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Cerâmica

A possibilidade é um sopro no presente
E de repente já virou pegada no contra-tempo da vida
Que é criar outras ou refaze-las de outras vestes, pé ante pé
E as que precisam da mão do outro
Se não moldadas
Parece que foram cena de sonho daquela Aurora repicada em desmaios e acordes e frestas de olho pra dentro.
Reveste ela e bate na minha porta..
Pra gente levar ela pra tomar um café, à três?

quarta-feira, 5 de julho de 2017

É a complexidade de uma encruzilhada
De 4 a infinitas vias com todas as aparências
Estar no meio fio frente a todas é amedrontador
Surge uma mão daquela tortuosa
E você pega porque no seu meio não se deixa o que se estende a deriva..
Nasce um fruto a frente do passo à velha rua. E que medo de pisar nele no entusiasmo dum broto no outro!..
E que leveza do vento no sol da barriga!
E que tortuosa e delicada a água escorrida do jardim particular pra que compartilhe!
Não ter a necessidade é reapropriar a cerca pra marcar o chão tombado e deixar que as mãos sejam os caminhos e façam das linhas de si, morada.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Fronteiras

Que ser poeta, a mim, é salvação
Mas é também mazela.
E olhar o céu sempre me salva de mim
Mas eu já nem sei, é mesmo
Qual é a linha do horizonte
Essa ilusão de que da fonte seca a sua criação..
Eu me calo pra não virar definição
Pra tentar não ter mais horizonte construído onde os lábios não podem mais cortar minha natureza em rios que cessam.
Eu quero ter minuto de ser a água antes de ser o recipiente que me contém seja lá em que mão se segura, em cada ping pong de extroversos querendo conhecer onde mais além.
Que lugar é esse pra onde eu vou quando descolo ?
E eu já sou o caminho do meio, mas ainda em feixe de luz que vem pelo lado da janela as 10h.. e as 14h já se foi.
O horizonte precisa ser olhar além
Sinto muito. Me perdoe. Eu te amo. Eu sou grata.
Que seja a palavra final
E ser poeta venha da imensidão vista sem óculos escuros.

domingo, 18 de junho de 2017

Queimava as beiras.

Como explicar o inexplicável
Que lateja
Bem em meu útero
Urge
E eu só queria sangria
Pra aliviar essa pressão
Que faz de mim marionete
Quer lambusar
de outros líquidos
Minha boca
Quer
Debulhar, escorrer
Suave e incessante
Nos braços de todos
Por quem minha alma já ergueu
A mão do amor
E doou.
Como se o órgão quisesse de volta
O que eu dei tao de bom grado
Porque tinha vazado tanto que já queimava as beiras,
Mas que agora me falta
E dói como chuva presa na nuvem
Dói
Paraliza
Que tem que chover quando já cristalizou
Granizo, agora só rasgando a pele
Porque nao só as beiras,
já queima o chão.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Fluído

Vocês não sentem?
Essa nuvem de anjos?
Esse portal violeta
Esse fluido
Onde estamos à banho Maria..?
Na tormenta, aquecidos
Embalados à braços de Mãe?

E os abraços depois do furacão
Pairam,
Porque pousar não podem
Mas são seus
Estão por ti

Tá no céu o tamanho de existir
Caber no corpo é desafio
Até que se abram os olhos
Ao respiro d'água
Que confundido em temor
Balança é o chamamento
E, vibrando, quero ser, junto

Todo o silêncio deste mundo:

Alto-falante do universo.

domingo, 14 de maio de 2017

Nevoeiro

Nem dia nem noite
Nem seus inteirins
É essa hora suspensa no escuro
Onde tudo cessa
E de dentro estou em casa,
Mais que de cima,
De onde é bom.viver no resto do tempo
Suspensa sentindo o que vejo
Enquanto a hora não suspende tudo pra mim..

Que de tanto peito ardendo quis ser nevoeiro
Pra abraçar igual nuvem tudo que permeia minhas vibrações
Que eu faço com esse corpo se queria ser coração d'outro(s)
Todos
Sou todo
E estou aqui só em mim
O orixá não quer vestir seda ou cetim
Quer vestir tua pele
Enquanto eu quero todas
Porque ninguém deixa meu orixá ser aqui comigo
E mestre de mim sou carente
Onipresente, já
Sem deixar de ser o egoísmo
Sem deixar de não saber como acordar
Pró novo dia que eu tanto almejo.

domingo, 19 de março de 2017

Vamos jogar pedrinha no rio?

Porque quem me faz reverberar assim, com arte, do que cria, se faz meu espelho. Me sinto um pedaço, quero me reconhecer, me apresentar àquilo de mim, aquele brilho de olho que me revela mais um pedaço do mistério pântano que sou. Não quero me depositar, mesmo que as vezes mais forte que eu, um pé já esteja em suas águas.. mas é, sim, reconhecer. Quem de mim sou em você e nisso que tu deu vida, que parece que saiu dá minha boca, dos meus dedos e entranhas? É que direto das minhas entranhas só sai o sinal que capta os pedaços e diz um oi de longe, grato, escorrido, de ter reflexos tão lindos no mundo, mas que dá imagem real pegaram toda a poesia e o que fica aqui é saudade de mim.
Reconhecer-se nos fios vibrantes do encontro é consciência e dádiva, mas e onde fica o Reconhecer-se dentro de si? Se todo mundo já deu vida ao que me fala, o que me sobra se não o amor ?